terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Conto: "O Lopo" de MIguel Torga

O Lopo Miguel Torga

O LOPO

Enredo
Manuel Lobo abriu com muito esforço uma mina, no pé da montanha. Dedicou três meses de intenso trabalho.Picareta e dinamite. No entanto, um rico proprietário Dr Casimiro, disputou na justiça a posse da mina. O Lopo foi ao escritório do seu advogado,o Dr Canavarro. A notícia foi a pior possível. Perdera a causa e teria que pagar a custa do processo. Foi almoçar com o amigo Marrau. Após o almoço avisou o amigo que não esperaria, voltaria antes para casa. No caminho vinha compenetrado, por dentro estava arrasado, porém não aparentava a ninguém o seu estado emocional. Cumprimentou as pessoas pelo caminho. Resolveu visitar a mina pela última vez. Lavou o rosto no riacho e voltou resoluto para casa. Ficou tranqüilo novamente. Mentiu para a espo-sa, afirmando que o advogado não tinha nenhuma novidade. Foi a janela, cumprimentou quem passava, jantou e foi dormir. Não teve insônia. Pela manhã mentiu a esposa.Disse que iria caçar uma lebre. Atravessou a cidade de Carvas, antes dos moradores despertarem. Seguiu para a propriedade rural do Casimiro a quinta dos Balaus ) . O Casimiro admirava sua plantação de uva. O Lopo o chamou por duas vezes. Atirou.
O final do conto
O Lopo, então, saltou ao caminho, regressou a casa pelo Lenteiro, depois de atirar a caçadeira a um poço, e falou assim à mulher:
—A questão está perdida e o ladrão já foi prestar contas a Deus. Sigo agora para Fermentelos, a ver se o Grilo me arranja dinheiro e passo a fronteira .ainda esta noite. Embarco em Vigo. Não levo nada, para ir mais leve e ninguém desconfiar. Tu ficas aqui, muito calada, até eu dar noticias. Adeus, e não chores.

Análise
Humano e desumano
As pessoas que possui uma visão humanística de sociedade, que lutam e sonham por uma relação fraterna entre as pessoas, Istoé, a valorização da justiça, da dignidade, do respeito ao próximo, a consciência de cidadania e a propagação de valores em busca da melhora moral do ser humano.
Sente-se incomodado com a solução radical no término do conto. O protagonista de marginalizado transfigura-se em marginal, assassino, aparentemente frio.
Esse limite entre o humano, o racional, o consciente marido, o tranqüilo amigo, o vizinho ,o trabalhador ,o cidadão e de repente o homicida,o fugitivo, o marido ausente, o renegado social ... Até onde é o limite do humano e desumano em nós? O cidadão que virou assassino. Vingou-se, porém tornou-se um ser marginalizado e marginal. A justiça pelas próprias mãos nesse caso e na maioria das vezes é incompatível com o humanismo e acaba descambando para a barbaria.
Inegável a culpa do Estado através dos seus agentes, que omissos ou promíscuos em suas funções,colaboram para o atraso das relações sociais e a deturpação da dignidade humana.
Temos um conluio de valores deturpados,para a felicidade das pessoas como : ganância e mentira, corrupção,crimes, que não findou no assassinato. A violência em suas múltiplas formas. A esposa separada do marido é um exem
plo de violência.
Traços marcantes
Os Personagens de Miguel Torga são humildes, porém não são subservientes. O Lopo mesmo sofrendo uma revolução interior , não demonstra o seu estado de espírito a ninguém. Almoça,cumprimenta as pessoas no caminho, janta,dormi...e mata o desafeto.

Regionalismo
Retrata o interior de Portugal, região norte do país. Carvas e seus arredores. Era inverno,mês de janeiro. No campo lexical, temos vários termos da região.
Vai uma cigarrada? ,
... respondeu a todas as pessoas que encontrou e o salvaram, e em Lobrigos, seco dos fumos da raia, bebeu um quartilho, sem que o taberneiro desse conta de qualquer nuvem a turvar-lhe o semblante.
— Então adeus, ti João!
— Adeus, Manuel. Vais-te chegando ao borralho?

Esse conto mesmo sendo regionalista, possui características univer-sais. Vejamos a seguinte correlação entre esse conto de 1941, que retrata a,região norte de Portugal e a realidade do interior do nosso Pará.
Quantos agricultores passaram e passam por situação parecida,nas terras amazônicas, que são griladas por grandes latifundiários,com a conivência de donos de cartórios e diversas autoridades munici-pal,estadual e federal.
O pequeno Posseiro é expulso da terra , enquanto o grileiro expande sua documentada propriedade, ou as vende aos grandes bancos e multinacionais. A sede do poderoso na sua ganância, ausência e corrupção do Estado, gera violência e atraso social em qualquer lugar do mundo.

Temática : A violência ( Os limites da justiça )

a) A violência do ganancioso, que já tem muito e quer mais ,independente da ética, do certo, do justo. Personificado no conto pelo Dr Casimiro.
b) A violência do Estado, personificado na justiça que não é justa.Que é corrompida pela força do poder econômico. Não cumprindo sua função social para qual foi criada.
c) A violência de um trabalhador ,que ao ser injustiçado,revida com mais violência e perde a dimensão humana ao matar o semelhante.
Trabalhadores
Mesmo o Dr Casimiro como o Manuel Lopo, todos são trabalhadores características dos personagens dessa região.

Personagens
O Manuel Lopo o protagonista, injustiçado e assassino.
Dr Casimiro, o homem que lhe roubou a mina e por isso foi as-sassinado
Sr. Casimiro, o homem que lhe tinha roubado nos tribunais a posse da mina, mourejava de sol a sol. (...) . Rico e manhoso, movia montanhas a cavar o dia inteiro, sem ninguém descortinar como conseguia ter Portugal nas mãos quase sem sair da terra.
Rita, a esposa , dona de casa, não percebera alteração no marido
Dr Canavarro, seu advogado
Marrau, o amigo que estava junto no almoço
Tio João, o taberneiro
D.Rosa, professora de um povoado
Amarante,dono do burro que levava a professora
Grilo, o amigo que o Lopo pretendia pedir dinheiro durante a fuga.
Foco Narrativo : 3° pessoa,narrador onisciente e onipresente
Espaço : Carvas e arredores, interior de Portugal
Enredo: Linear,início,meio e fim
Tempo: Cronológico, aproximadamente 24 horas

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