quarta-feira, 29 de junho de 2011

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terça-feira, 28 de junho de 2011

O HETERÔNIMO RICARDO REIS










Médico de profissão, monárquico, viveu emigrado alguns anos no Brasil, educado num colégio de jesuítas, recebeu, pois, uma formação clássica e latinista e foi imbuído de princípios conservadores, elementos que são transportados para a sua concepção poética. Domina a forma dos poetas latinos e proclama a disciplina na construção poética.

Ricardo Reis é marcado por uma profunda simplicidade da concepção da vida, por uma intensa serenidade na aceitação da relatividade de todas as coisas.

Características e Temas

01. Proclama-se neo-pagão

Acima da verdade
Acima da verdade estão os deuses
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza que com eles
Sabem que há o Universo.

02. O Destino apregoando a sua crença nos deuses e no fatum (destino), que está acima deles e que os comanda.

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.

03. Ricardo Reis era discípulo de Alberto Caeiro, são formas distintas do Sensacionismo

Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.

04. . Epicurista (na busca dos prazeres moderados, na fuga à dor e na defesa da ataraxia, que não é mais do que a busca da felicidade com a tranqüilidade).

De Aristóteles falando.
Mas Epicuro melhor
Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre
Tendo para os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e vendo a vida À distância a que está.

05. Carpem diem - Versa o tema horaciano do carpe diem, isto é, do aproveitar o momento presente, o prazer de cada instante.

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.

Não tarda nada sermos.

Isto, pensado, me de a mente absorve

Todos mais pensamentos.

O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,

Que, inda que mágoa, é vida

06. Neolássico - Utiliza, com freqüência, um tom moralista, convidando à aceitação calma da ordem das coisas

É tão suave a fuga deste dia, Lídia,
que não parece, que vivemos.
Sem dúvida que os deuses
Nos são gratos esta hora,
Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dão o alto prêmio
De nos deixarem ser
Convivas lúcidos da sua calma,

07. Sensacionismo – Efemeridade Preconiza a carência das idéias dogmáticas e filosóficas como meio de manter-se puro e sossegado;

No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele.
Quanto vivas Sem que o gozes, não vives.

08. Anticristão:

Não a Ti, Cristo, odeio ou te não quero.
Em ti como nos outros creio deuses mais velhos.
Só te tenho por não mais nem menos
Do que eles, mas mais novo apenas.

09. Amor platônico

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao ar.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as

No colo, e que o seu perfume suavize o momento - Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,

Estilo/ Linguagem:

· Utilização de um estilo laboriosamente construído, de uma linguagem erudita e alatinada no vocabulário e na sintaxe.

· Recurso às frases subordinadas.

· Uso do hipérbato, da metáfora, do eufemismo e da comparação.

· Recurso ao gerúndio e ao imperativo (ou conjuntivo com valor de imperativo) com caráter exortativo, ao serviço do tom sentencioso e do caráter moralista da sua poesia.

· Utilização da ode, ao estilo de Horácio.


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.